O resgate da simplicidade
Para além dos tempos novos onde toda a ancestralidade do homem velho tem sido constantemente trabalhada, há o surgimento do resgate da simplicidade. De tão simples que é cada revelar da Vida, as personalidades insistem em dificultar processos esbarrando nos limites de uma criatividade vazia, aquela que é construída e gerida pelo excessivo movimento das capas mentais do ego.
Há uma beleza e uma alegria interna genuínas quando há o exercício da verdadeira simplicidade, que nada tem a ver com pobreza, escacêz ou limitações materiais, mas aquela que é a esposa do fluxo, que tudo facilita, que tudo permite e que tudo libera. Ser simples nos pequenos detalhes acaba por ser um dom daqueles que verdadeiramente estão em sintonia com a beleza de seus núcleos mais internos, onde nenhum tipo de caos externo é capaz de ocasionar desestruturas.
Resgatar a simplicidade em nós exige o movimento do esquecimento da confusão, das complicações, das turbulências e das exigências excessivas em que eras de vidas apegadas ao caos foram se consolidando. A Divindade humana, manifestada muitas vezes pelo próprio livre arbítrio, fez com que homens e mulheres passassem a verdadeiramente acreditar que os movimentos da vida devem ser geridos em processos complicados, estrategicamente pensados ou articulados. Na verdade é justamente quando se solta toda a vontade de solucionar qualquer coisa é que ela, a simplicidade, brota como uma sementinha a germinar silenciosamente num sólo fértil, cheio de folhas secas a serem reutilizadas para esse processo e movimento natural da Vida.
Um dia alguém sentiu no coração uma grande vontade de realizar um sonho mas deixou de o fazê-lo porque acabou por adicionar mais combustível nos fatores materiais e externos do que alimentar a chama do seu coração. Outro dia alguém deixou de Ser quem verdadeiramente é porque estacionou sua vida nos equívocos de seus apegos e se perdeu na complexibilidade de seus processos mentais. Outra vez, uma pessoa recebia uma tarefa e por mais incrivelmente impossível que aquela tarefa poderia parecer ela simplesmente aceitou e então todo o universo conspirou e o que era para ser feito, se fez.
A simplicidade é como o atravessar de uma ponte por cima de um grande labirinto. Ela pode até nos levar para lugares difíceis e por vezes ainda cansativos, mas torna o caminhar belo e vai nos presenteando, a cada passo, com o aroma das flores mais belas, o cantar dos pássaros mais lindos e o suavizar da brisa mais leve. É como se houvesse um ser invisível a tirar todos os obstáculos do caminho só para que possamos receber a graça de focar naquilo que é, no todo que tem que ser.
Desconstruir o velho e dinamizar o novo exigem de nós a ousadia de perceber que até mesmo o renovar dos ciclos e processos de aprendizados da Vida são permeados pela simplicidade que está sempre presente e que ao percebermos e a aceitarmos, somos capazes de transformar, transmutar e gerar nossa própria realidade. A simplicidade é a aliada dos que vibram na sintonia da renovação. Aceitar e ser simples nos atos, pensamentos e palavras é aceitar estar em ressonância com a nova realidade humanitária. É dar o passo para a transcedência, sem culpa ou apegos. É olhar com amor o que fica para trás, mesmo que seja uma parte de nós mesmos, e sermos gratos pela fluidez com que tudo nos é gerido quando só entregamos e na simplicidade somos.
Fernanda Paz
Fevereiro, 2020
Fernanda Paz
Fevereiro, 2020
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