Os verdadeiros sentidos são os vividos pela Alma


Acessar o campo real do íntimo do Ser possibilita compreendermos, por meio de uma experiência empírica, quais são os verdadeiros sentidos capazes de trazer a real plenitude ao ser humano. Já há tempos antigos, no oriente tibetano, monges estudavam e praticavam uma vida reservada, silenciosa, na consciente busca do despertar a verdadeira mestria, aquela que surge em decorrencia da não apropriação dos sentidos que estimulam simplesmente sensações físicas, materiais.


O tato, o olfato, a audição, o paladar e a visão são sentidos que nos conectam com o mundo material e nos permitem viver a experiência de ser humano digno de apreciar e experimentar as belezas que por aqui existem, além de possibilitar a exploração do território material, atuá-lo e gerí-lo em condições próprias que cada sentido é capaz de oferecer. Em um momento da tragetória do Ser, quando a alma começa a apontar o direcionamento ao ego, os cinco sentidos que nos conectam à matéria começam a perder a importância em proporções naturais e espontâneas.

Um único canal, a Fonte Única, capaz de oferecer ao homem todas as grandes realizações internas, é essa ligação com sua própria alma e a percepção da sutileza desta presença. Quando se permite ser guiado por esse comando Maior, nenhum desejo material ou físico é capaz de se apropriar da personalidade, que já se sente confortavelmente estável num certo nível de neutralidade a responder os movimentos da vida de maneira suave e vagarosa, sem grandes pretensões de alcançar o que quer que seja.

Estar em sintonia com a alma e viver essa experiência é permitir-se deixar ir embora os apegos e os desejos mundanos que englobam não apenas aqueles que erroneamente julgamos como "negativos", mas principalmente os excessivos desejos por coisas e circunstâncias boas ou as excessivas necessidades de estarmos coligados ao jogo da ilusão.

Uma velha história citada em algum antigo livro da tradição hinduísta contava a experiência de um iogue que buscava profundamente a sua realização em partilhas com seu guru. Num determinado momento após longas horas de sintonia e meditação silenciosa, sentado num lugar oculto em meio a natureza, se percebeu distraído pela movimentação de dois animais se aproximando com acelerados passos como que trazendo a percepção de que ali acontecia uma verdadeira caça dentro da lei da sobrevivência natural da Vida. Então o jovem iogue acabou por abrir os olhos assustado, num impulso de desejar fazer algo pela vida de um pequenino cervo que corria desesperadamente para fugir das garras de uma onça, interrompeu sua conexão com seu Eu Maior. Após perceber que nada podia fazer e que o animal acabara por ser abatido ali mesmo diante de seus olhos, o iogue interpelou seu guru, incomodado, questionando porque algo tão cruel viera a acontecer justamente ali por onde ele buscava silencio e recolhimento e para somatizar a experiência, acabar por se transformar num espectador da morte de um jovem animal inocente.

O guru do jovem iogue calmamente responde: "para além de ter interrompido um processo pelo qual estava ali prestes a experienciar, sua personalidade não conseguiu resistir aos apelos da curiosidade, do apego e da identificação com os elementos da matéria. Antes de querer salvar qualquer vida ou participar de um processo que não faz parte de ti, é necessário que estejas inteiro consigo mesmo e na profundidade de sua sintonia saberás o momento certo em agir e se deve mesmo agir. Lembre-se que os jogos da ilusão desta vida material está o tempo todo nos distraindo com suas formas e personagens. Entrega-se a quem verdadeiramente és e já não se perderás entre os véus que cobrem a tua própria Verdade".     

Fernanda Paz
Julho 2020

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